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Até dezembro de 2019 estávamos acostumados a viver nas engrenagens dos nossos dias em ritmos acelerados, cada um ao seu modo, em incessantes ciclos de produção e consumo, quando ouvimos noticias de um vírus desconhecido capaz de se espalhar pelo mundo. Por aqui seguíamos cegos entre tantas cortinas de fumaças, o nome Wuhan já circulava nos noticiários enquanto a Viradouro se consagrava campeã, o Brasil que como sempre "começaria" no pós-Carnaval parou, mas antes foi ao supermercado esvaziar as prateleiras de papel higiênico.
Testemunhamos atônitos esses dias com imagens aéreas de cemitérios de Manuas estampando jornais com a mesma potência da erupção de Anak Krakatoa, a necropolítica como nunca dançava a beira do abismo, o grito I Can’t Breathe ressoou nos emaranhados de nós aflitos e blackfeeds. A revolta teve seus instantes, mas como diria Rimbaud: o insuportável é que nada é insuportável, e o novo normal chegou entre uma onda e outra.
Assistir estátuas sendo derrubadas foi o respiro que precisava diante do contexto asfixiante, me trouxe energia para sair às ruas apesar do medo. O risco do vírus me pareceu menor que o perigo da paralisia. Assim, comprei alguns metros de pano verde chroma key e o vesti nas ruas da grande São Paulo, um gesto de asco ao passado-presente e anseio pelo novo. Ao trajar a cor e me despir de uma identidade pretendi potencializar projeções livres, fomentos para a capacidade de sonhar, novas narrativas.
Entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, produzi pouco mais de 250 ações no espaço urbano, intervenções cujas durações eram estipuladas pelas singularidades dos contextos. Método errante e quase sempre solitário, em companhia apenas de um tripé e uma câmera. Documentos-monumentos dos nossos dias.
Anotações 2020-2021
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Depoimento para projeto que não virou (financiamento).
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