Até dezembro de 2019 estávamos acostumados a viver nas engrenagens dos nossos dias em ritmos acelerados, cada um ao seu modo, em incessantes ciclos de produção e consumo, quando ouvimos as notícias de um vírus desconhecido capaz de se espalhar pelo mundo. A pandemia em 2020 veio e logo desclipsou necessidades, luz se lançou em nossos porões e quem pode parou.

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Testemunhamos atônitos esses dias, a revolta teve seus instantes, mas como diria Rimbaud: o insuportável é que nada é insuportável, e o novo normal chegou entre uma onda e outra.

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Assistir estátuas sendo derrubadas na Antuérpia, Baltmore, Bristol, entre outros lugares, foi um respiro que precisava diante do contexto asfixiante, o gesto de sair às ruas com um pano de chroma key nasceu aí, como uma ânsia pelo novo, por novas memórias, uma provocação aos ícones. Ao vestir a cor e me despir de uma identidade quis potencializar projeções livres, novas narrativas.

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O isolamento social imposto pela pandemia em 2020 e a consagração da vida on-line me fez ampliar minha concepção de espaço público, passei a considerar a internet também como uma pólis, um zona de contato exterritorial, que por muitos meses tornou-se minha única praça de encontros possíveis.

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Em agosto de 2020 resolvi voltar a colocar o pé na rua depois de meses isolado, o risco de sair foi menor do que o perigo de ficar e não colocar pra fora todo o acumulo daqueles dias. Assim nasceu a série Ambivalente, do desejo de rua em conjunção ao convite de @tdeap para estar AO AR, LIVRE, em que em um final de semana produzi um pouco mais que uma dezena de intervenções, que das ruas foram parar nas redes sociais, reverberando-as.

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Agora, Ambivalente ganha novos contornos em forma de livro, uma publicação que nasce primeiro em um web-site para depois se materializar em objeto, um projeto composto com camadas de espaços públicos. Que transita da ocupação do site da rua com as intervenções urbanas, para um extra-site virtual com os registros fotográficos, e que se completará em forma do física, capaz de circular entre mãos e ocupar novos espaços.

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